Não consigo deixar de associar a tragédia no festival das águas no Camboja com o tumulto das festas de Natal e Fim de Ano. O que era para celebrar pelo fim da temporada de chuvas, transformou-se num “dilúvio” de gente espremida numa ponte, com centenas de vítimas esmagadas, pisoteadas, afogadas no rio. As imagens são chocantes. Mas porque as pessoas se metem nestes lugares? Eram 2 milhões de gente aglomerada? Tragédias deste tipo já estão anunciadas. Só nos últimos 20 anos aconteceram 16 grandes tumultos parecidos, com um total de 5 mil mortos. Melhor mesmo é ficar em casa, longe destas festas.
Bem melhor se pudéssemos ficar longe deste Natal tumultuado. Longe das correrias, dos engarrafamentos, das filas, da corrida pelos presentes, do estresse... Afastados do perigo de sermos pisoteados pela multidão de compras em várias prestações. Nada contra o comércio. Apenas um alerta do velho Simeão, de que o menino de Belém seria a destruição e a salvação para muita gente (Lucas 2.34). Não é isto que acontece? A festa da Água da Vida (João 4.10) em afogamento e morte? Nem penso na loucura do trânsito, nas bebedeiras e outras inconsequências. Falo do significado desta festividade do Deus encarnado. Coisa que a gente está cansada de ouvir, mas, quando chega este tempo de atravessar a ponte de Belém para um ano abençoado, fica preso e espremido na multidão insana, sem conseguir sair. Por isto, “vida de gado, povo marcado, povo feliz” – canta Zé Ramalho. Ou então, escreve o teólogo: “O Senhor Jesus veio a uma humanidade tão acostumada com a miséria e a desgraça, e feliz numa situação na qual ninguém pode ser feliz – a menos que não esteja certo da cabeça”.
Mas então é Advento, tempo para escapar deste caminho que parece certo, mas que pode acabar levando para a morte (Provérbios 14.12). Tempo de ouvir João Batista: “Preparem o caminho para o Senhor passar” (Mateus 3.3). Pode ser caminho espremido, mas ainda é o período na liturgia da igreja que arruma o Natal através da reflexão bíblica sobre os três “nascimentos” de Jesus: pela mãe Maria, pelas Escrituras Sagradas, e na segunda vinda dele pelo Juízo Final. Por isto não consigo deixar de ver na tragédia do Camboja o tumulto de Natal. Dá vontade de chorar...
Rev. Marcos Schmidt
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS.
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